Monday, October 5, 2009

Um outro mundo é possível

Um email confirmou minha participação na competição sobre mudanças climáticas da Th!nk About com outros 80 blogueiros de 40 países. Leava na mala umas poucas roupas e 2,5 toneladas de carbono, emitidas para vencer os 13 mil quilômetros entre São Paulo e Copenhagen.

Copenhagen me recebeu ensolarada naquele domingo de 20 de setembro. O lugar é lindo – impossível não gostar dos prédios com tijolinhos à mostra, do metrô limpo e com informação fácil. Poucos carros nas ruas e o aspecto silencioso da capital dinamarquesa também chamam a atenção. No fim da tarde, uma andança pelo centro da cidade com a Deborah Goldemberg, Diego Casaes e Enzo Voci. Pouco antes, já havia encontrado a Letizia Gambini e o Peter Sain Berry no saguão do hotel. A noite caiu e voltamos do Tivoli Park.

Segunda de manhã rumamos para o Bella Center, onde acontecerá a reunião da COP15, entre 7 e 18 de Dezembro – e onde hoje o Rio de Janeiro foi escolhido como sede das Olimpiadas de 2016. Uma inglesa, um esloveno, duas romenas e três brasileiros compunham meu grupo.

A primeira palestra do dia foi proferida por Svend Olling, representante do Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca. Olling nos conta que o evento será totalmente sustentável e que as emissões de CO2 dos transportes usados pelos participantes – inclusive as de aviões – serão compensadas.

Dos 40 mil participantes, metade serão de Organizações Não-Governamentais. A chegada de todas essas pessoas representará um aumento de 2,5% na população de Copenhagen. Isso torna ainda mais louváveis os esforços de logística e de sustentabilidade do evento.

Jornalismo foi o tema da mesa redonda com Tasha Eichenseher (National Geographic), Gerald Traufetter da revista alemã Spiegel, Ramesh Jaura da IPS e do professor Asbjorn Jorgensen, da Escola de Jornalismo de Arhus. O desafio do jornalismo ambiental é traduzir as mudanças climáticas para o público. Ou ainda, nas singelas palavras de Wilfried Rütten do EJC: “(Blogueiros) dêem voz àqueles cuja voz é mais fraca que a de vocês”.

Isso mostra como as mudanças climáticas são um problema também de diálogo e de comunicação. Sem falar nos aspectos políticos e economicos. Para quem gosta da relação entre meio ambiente e finanças, recomendo o blog Environmental Economics”. Mudanças climáticas são um problema de grande impacto visual,  e por isso, aposto em fotos – veja esta galeria da NG – e vídeos para mostrar como o aquecimento global já está afetando as nossas vidas. Além disso, as plataformas multimídia permitem narrações criativas e interessantes sobre ciência. O exemplo mais interessante que eu vi é – ironicamente – a história de uma caçada de baleias.

No entanto, a criatividade é só o primeiro passo. Boa informação depende de boas fontes e uma saída é acompanhar o que os pesquisadores da área de mudanças climáticas estão fazendo.Sugiro o Eurekalert.org – site que agrega publicações científicas do mundo todo antes mesmo de elas serem publicadas.

Tudo isso foi para mostrar como o Jornalismo terá um papel mais importante do que os políticos na discussão sobre o meio ambiente daqui em diante. O que a mídia pautar será discutido e isso pode aproximar ou afastar as pessoas. Para aproximá-las, devemos aproveitar o conteúdo e o conhecimento trazido por elas – é por em prática o Jornalismo colaborativo. Mostrar os interesses envolvidos no tema e como isso afeta o cotidiano das pessoas.

O mote para as duas palestras seguintes foi o papel da União Européia sobre as mudanças climáticas. Ainda que os planos do Velho Continente sejam bons, as ações precisam ser globais e abarcar todas as nações. Só assim poderemos ter um acordo efetivo na COP15. Uma pergunta interessante: por que devemos cobrar da China maior eficiência na produção de bens de consumo? É fácil cortar as nossas emissões de CO2 e delegar a produção à China e Índia. Em tempo: ambos os países estão se comprometendo com o acordo. A dificuldade está em conseguir atitudes firmes dos EUA e do Brasil – para minha decepção.

Lutar contra o aquecimento global irá exigir cerca de 1% do PIB mundial (US$ 600 bi ao ano). Mas não agir será ainda pior: pode haver uma retração de até 20% do PIB mundial até 2050 caso não tomemos medidas efetivas contra as mudanças climáticas. O efeito positivo dessa constatação é que isso deverá fazer os empresários pressionarem os governos de seus países até dezembro.

Ao final do primeiro dia de atividades, um sopro de esperança: Soren Hermansen veio conversar conosco sobre Samso, ilha dinamarquesa totalmente sustentável. Desde 1997, Samso resolveu mudar o modo como obtém energia, por conta dos choques do petróleo. O Guardian e a Wikipedia escreveram sobre o projeto. O sucesso da empreitada fez a revista Time escolher Hermansen como o herói do clima em 2008.

Penso que herói não é a palavra correta para definir esse inovador – apaixonado é a melhor escolha. As palvaras soam alto e as piadas fazem rir os 80 blogueiros. De modo vibrante, ele aponta as razões para o sucesso da ilha de Samso: empregos verdes, economia local, democracia energética e independência do financiamento governamental e claro, planejamento a longo prazo.

Entretanto, Hermansen soube fazer suspense e guardou o principal motivo – na minha opinião – para o final da sua apresentação: envolver a comunidade no investimento financeiro e na tomada de decisões no projeto. “Isso as faz se sentirem integradas e responsáveis sobre cada coisa em Samso”. Essa foi uma das melhores palestras que eu já assisti e o governo dinamarquês devia patrocinar Hermansen para que ele falasse sobre Samso mundo afora.

Foi com esse espírito de esperança que saí do auditório do Bella Center, com o vento soprando e o sol já caindo sobre Copenhagen. No dia seguinte, iríamos visitar a Ecovila de Dysselkilde, 35 km ao norte da capital. Lá eu veria todos os conceitos explicados por Hermansen colocados em prática. (Continua…)

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